“De afetos imprecisos,/De repente tomados
À lua das vazantes/Num relance possessos
Possuídos/Inflamando o sentir
Recomeçando aquele, o mesmo canto.” Hilda Hilst
Se o Brasil é tido como o país das cantoras é porque com a força de suas interpretações elas são capazes de tomar para si o protagonismo de composições alheias. Como para os apenas letristas é difícil se destacar nesse cenário, afinal de contas a música atinge seu cume quando se desmancha do papel e torna-se etérea através de sons, tanto mais o é para seus instrumentistas. Portanto não é pouca coisa que Dilermando Reis tenha se tornado, para além do violão, uma referência da música popular brasileira e a todos que admiram o gênero. Em pouco tempo ele deixou de ocupar a estante reservada aos aficionados e especialistas para se juntar a nomes tão populares em seu período áureo como Francisco Alves, Carmen Miranda e Luiz Gonzaga. Terá contribuído para isto o estilo, ou, antes a autenticidade, tão cara ao artista.
Admirado por Raphael Rabello, contemporâneo de Garoto, o certo é que o estalo para Dilermando, natural do interior paulista, aconteceu quando assistiu a um recital de Levino da Conceição, violonista cego o qual passou a acompanhar em excursões pelo país. Na época a consagração ocorria no Rio de Janeiro, então capital federal, e foi lá que Reis se estabeleceu como artista, na Rádio Clube do Brasil, levado por Renato Murce. Gravou músicas clássicas, choro e valsa, numa transição entre o típico e o importado, o erudito e o popular, que mal se fazia notar pela característica afetiva que Dilermando empregava em seus concertos. Um dos feitos mais aclamados é o de ter ensinado o ofício para o presidente Juscelino Kubitschek. A maior contribuição de Dilermando Reis, no entanto, foi a de, mais do que popularizar o violão, torná-lo um instrumento de arte a serviço das emoções e do sentimento.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.